quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Composição da Telma

Vou escrever uma passagem da minha vida difícil e que me fez ver realmente quem são os nossos amigos.



Até aos sete anos de idade, vivi a minha vida de igual modo à das outras crianças: cresci, brinquei, entrei na escola primária, fiz a primeira classe e até aqui, tudo bem, não tinha qualquer dificuldade.


Mas, aos sete anos tudo mudou. Tudo começou na sala de aula, a professora tinha escrito no quadro e eu não conseguia ver, então levantei-me sem pedir autorização e fui para a secretária da professora, mas também de lá não consegui ver. Quando a professora me viu lá começou a dizer que eu não podia estar ali, mas de uma forma muito chateada. Eu expliquei o que tinha, mas ela não acreditou, disse que era mentira e que era só para não passar as coisas no quadro.


Passados uns dias, foi lá à escola um oftalmologista para fazer um rastreio a todos. E foi aí que ele disse que eu via mal, ou seja, tinha problemas visuais mas não sabia do que se tratava. Só então, a partir daí, é que a professora acreditou em mim.


A minha mãe e o meu pai preocupados, levaram-me a muitos médicos particulares, mas nenhum sabia o que era ou como se chamava a minha doença. Foi então que, um tio meu, levou-me com os meus pais a um médico, ao qual ainda não tinha ido e foi ele que descobriu o que é que eu tinha e como se chamava. E chama-se “Stargart”, não sei se é assim que se escreve, mas é assim que se diz.


Pois é, uma doença rara, mas a mesma doença que a filha do meu tio, também tem.


Na escola, antes de isto tudo acontecer, eu achava que se chamava amigo quem me rodeava, desde os tempos do infantário, mas não, estas pessoas que eu considerava meus amigos não o eram realmente. Eles desprezaram-me, ignoraram-me, riram-se na minha cara, a gozar com o meu problema, enfim, sofri muito, mas até foi bom que isto tivesse acontecido, pois percebi quem realmente gostava de mim e quem me apoiava. O pior de tudo, é que os tive de aturar até ao quinto ano, ma mesma turma e sempre a sofrer. Como não me bastavam eles, os professores, no quinto ano, também não se importavam comigo e não me ampliavam as fichas para estudar, e nem tinha apoios.


Quando estava mesmo no fim do ano lectivo, a professora do Ensino Especial disse à minha mãe que era melhor para mim mudar de escola, para uma que iria ser boa para mim e que tivesse professores que fizessem tudo por tudo para me ajudar.


E assim foi, eu mudei de escola, fui para a EB 2/3 de São João da Madeira e lá fiz o sexto ano por disciplinas, em dois anos e depois fiz o sétimo, o oitavo e o nono como os outros.


Nesta escola, sempre tive boas notas e tive também professoras e funcionários que se preocupavam e gostavam de mim. Aqui, em relação aos amigos, também não tive nenhum da minha idade, mas isso nem é que me faça mal, porque eu dava-me muito bem e podia considerar como minhas amigas as funcionárias e algumas professoras.


Fui muito bem tratada naquela escola, durante cinco anos e feliz também.


Agora, estou numa escola secundária, e está a ser uma experiência muito boa e está a acontecer o que acontecia na escola em que estive anteriormente.


Isto tudo para dizer que mesmo eu que fui tão infeliz naquela fase, agora não ligo a mais nenhuma crítica que façam contra mim.






/ Telma Almeida

1 comentário:

  1. És uma menina maravilhosa Telma...agarra a vida pois tens muito para lhe dar!
    Beijinho, Prof. Diana

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