Aloha !
Aqui estou eu acabada de chegar depois de um ano a viver a cultura havaina e vou aqui escrever um pouco sobre as experiências vividas, os conhecimentos adquiridos, o encanto do solarengo estado. O Hawaii (ou em Português, Havai) é realmente um lugar inesquecível. Quem um dia viajou ao arquipélago mais isolado do mundo, que está a 4.000 km do continente mais próximo (a costa oeste da América do Norte), sempre deseja voltar ao local. Afinal quem não deseja voltar ao paraíso?
Tomei a decisão de ir estudar Inglês aprofundado um ano para Leeward Community College, uma universidade havaina da ilha de Oahu que dispõem de excelentes programas para alunos internacionais. Enfim, mas porquê o Hawaii? Por todas as razões possíveis e imaginárias. Para além de sempre ter tido o sonho de viver neste país, viver nesta acolhedora cultura, desde sempre que admiro e vivo superficialmente a cultura do surf, e que melhor sitio para mergulhar de cabeça neste estilo de vida do que o Hawaii.
Partindo de Portugal, com escala em Los Angeles, são quase vinte e cinco horas de viagem. Mas isto é apenas um detalhe ...
Honolulu, capital deste arquipélago, situada na ilha Oahu, é o local onde, ainda no aeroporto, as pessoas são brindadas com um perfumado colar de flores – orquídeas ou plumérias - chamado lei.
Honolulu, capital deste arquipélago, situada na ilha Oahu, é o local onde, ainda no aeroporto, as pessoas são brindadas com um perfumado colar de flores – orquídeas ou plumérias - chamado lei.
Muitos “alohas” depois, dei um passeio rápido pela cidade. Logo me apercebi que se assemelhava muito às grandes cidades costeiras, como Miami, por causa da quantidade de lojas, restaurantes, shoppings e hotéis. Mas apesar desta cidade parecer muito atractiva para a maioria dos turistas, para mim não. Não tinha vindo até aqui para continuar a viver a poluída e materialista vida que tinha em Portugal, “vida de cidade”, não eu não queria viver rodeada de tudo o que estava habituada, queria-me abstrair de tudo isso, e simplesmente, viver a bela cultura havaiana, ou seja, aprender a viver simples e pura, dar valor ao que tenho agora e aproveitar cada momento, viver em harmonia com a comunidade e com a natureza. Isto é, para os havaianos existe uma relação primordial com o universo, a natureza, a terra e o mar, uma ligação que vem de uma profundidade espiritual, bem como sistema de crenças genealógico. A natureza é onde tudo começa para os havaianos, a verdade é que eles se chamam keiki o aina ka '- "filhos da terra".
Depois de apanhar dois autocarros e boleia, cheguei até à casa onde fiquei hospedada durante todo aquele tempo. Tive a enorme sorte de uma familia nativa me oferecer um quarto na sua humilde residência, uma casa ainda grande, branca, sem muros (sim, porque aqui no Hawaii as pessoas vivem num estilo tão simples e descontraído que não necessitam desse tipo de edificação) sobre uma encosta com uma vista espectacular para uma praia próxima da Kalama Beach. Posso dizer que acordar com o barulho dos pássaros cantando na janela, ver aquela imensidão azul mal abrimos os olhos, o sol raiando bem cedo é das melhores recordações que guardo.
A vida no Hawaii é muito sossegada, o trânsito tranquilo, as pessoas vão à praia todos os dias, é como para nós irmos lanchar com os amigos (hábito meu em Portugal e que mantive aqui) para eles é como um momento de convívio e descontração, posso dizer que até me sentia grata quando chegava da universidade e ainda tinha oportunidade de descer à “nossa praia” e conviver com os locais. O povo havaiano, embora pequeno, consegue afirmar a colectividade e trabalhá-la promovendo a hospitalidade e o espírito humano, contribuindo também para que o corpo social esteja em constante harmonia e interacção com a natureza - sobretudo o mar - sem degradá-la. Amor e carinho pela terra é aloha 'aina e a mesma atitude em relação ao mar é aloha kai. Essas ideias mostram o amor e o respeito que os havaianos têm para com o mundo à sua volta, o mesmo amor, carinho e respeito que sentem pela sua ohana (família, algo que nunca é “deixado para trás”) e todas as pessoas de boa vontade. Facilmente me apercebi do importante papel que a família tem para o povo havaiano, a família é “a cola” que junta tudo. Assim como têm respeito pelos idosos, que são tratados como pessoas sábias e eu própria pude comprovar esta sabedoria com a mãe da dona de casa, Aima, que me transmitiu grandes ensinamentos e me ajudou a conhecer muito melhor a história e cultura deste estado.
Para perceber melhor os valores deste maravilhoso povo, o dono da casa onde fiquei hospedada, Pole, ensinou-me uma maneira popular para perceber o significado da famosa palavra Aloha, que é formada pelas iniciais de outras cinco palavras havaianas, cujos significados orientam a conduta do povo local: Akahai – Bondade ; Lokahi – Unidade ; Olu Olu – Cordialidade ; Ha aha a – Humildade ; Ahonui – Paciência.
Como os próprios havaianos gostam de dizer, palavras não são suficientes para traduzir todo o significado da palavra mágica Aloha. Trata-se de uma espécie de filosofia local, que permeia as relações interpessoais e faz com que cada indivíduo seja parte da comunidade. É o que diz um dos principais provérbios havaianos: "O nós, anula o eu ...".
Os havaianos seguem à risca o significado das palavras e isso deveria ser uma coisa que todo o mundo deveria seguir.
Um famoso aspecto associado ao Hawaii é o seu intenso vulcanismo, todas as semanas ouvimos "entrou em erupção tal vulcão" mas aqui o povo já está tão habituado e preparado que já não dá grande importância, dizem até fazer parte da sua cultura.
Outra famosa tradição do Hawaii é a dança do “hula-hula”, que tive a sorte de presenciar numa bela festa de comemoração do primeiro aniversário da filha do casal, o tradicional Luau. Os pratos principais desta festa, geralmente, são porco assado no espeto, e peixe cru marinado. Ah, sim, o peixe, apaixonei-me completamente pelos cozinhados, os mil e um pratos de peixe que maravilham as pupilas gustativas de qualquer um.
Num dos primeiros dias, quando estava a ver televisão reparei que o boletim meteorológico é dado de maneira diferente, é que para além das temperaturas e dos ventos, dão igual importância às ondas (ao seu comprimento, frequência, intensidade) dado que um importante interveniente integrante desta cultura é o surf. Parecia um boletim dos que se encontra nos sites deste tipo de desportos. Ah sim, impossível descrever a cultura havaiana sem mencionar o surf ...
É um pouco incerto, pois não se sabe em que ano específico nasceu o surf, mas não tenho nenhuma dúvida ao afirmar que a cultura do surf nasceu no Hawaii, basta passar lá 1 dia para perceber, e é impossível passar lá um ano sem nos rendermos a este maravilhoso desporto. O culto é tal, que os surfistas amam as ondas, prestam-lhes culto, simplesmente têm um respeito enorme pelo meio que lhes proporciona grandes aventuras e prazer. Eu iniciei este desporto rapidamente, desde a minha chegada, fiz bons amigos, conheci pessoas extraordinárias. Às vezes é difícil para nós, pessoas da cidade, perceber como é possível uma pessoa abdicar de tudo, para ir em busca de uma onda.. Aconselho então todas essas pessoas a ir uma semana para o Hawaii, é só ver o amor que aquela gente tem pelo mar, o respeito que têm e a alegria dos surfistas quando falam das boas ondas que “apanharam”, perdem-se todas as inibições, pega-se numa prancha e mergulha-se nesta cultura, porque não há nada que nos dê maior sensação de liberdade do que “pegar” uma onda.
Com tudo isto, podemos concluir, que o povo havaiano é dependente da natureza, eles veneram-na e respeitam-na, para eles o sucesso depende de viver em harmonia com a natureza; é extremamente ligado à família e pela minha curta estadia neste país pude concluir que é um povo muito humilde e bondoso, gostam de partilhar e são muito calmos e pacientes, claro que isto é uma ideia geral porque nem toda a gente se rege pelos mesmos valores e existem sempre excepções. Tenho grande vontade de voltar para esse país, porque me apaixonei completamente pelo clima ameno-quente, pela natureza, pelo surf, pela harmonia, pela FELICIDADE dos havaianos.
Mª João Silva nº14
PS: fui eu que postei o poema "Filosofar é preciso" de Epicuro
Gostei muito do conteúdo desse blog!
ResponderEliminarSugestão de livro: "Eddie Would Go" de Stuart Holmes Coleman