quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A cidade dos prodígios .

Edimburgo , património da Humanidade !

Quando desci do autocarro, na estação de Waverley, percebi que estava mesmo em Edimburgo: a chuva caía miudinha, a fresca tarde de Junho ameaçava piorar, e um escocês, de Kilt vestido e de pasta na mão, dirigia-se para o comboio. Mas só nós, os turistas, reparáramos no traje, que parecia saído de um bilhete-postal e que surgiu no século XVI, no norte da Escócia. Por aqui, a tradição ainda é o que era. Até no pormenor “arejado” de não se usar nada por debaixo do kilt, como mais tarde comprovei na Royal Mile, quando um sósia de William Wallace, vestido como o herói escocês do século XIII, levantou as saias em resposta às provocações de um grupo de adolescentes sobre a sua autenticidade….Como reza o anúncio “ no rules, Great scotch”!


Edimburgo surpreende e é um dos maiores centros financeiros europeus. A cidade não é muito grande (460 mil pessoas), mas concilia diferentes monumentos e épocas com notável bom gosto. O castelo, encavalitado em cima de um rochedo no centro da cidade, é omnipresente. A sua posição estratégica tornou-o um posto defensivo ao longo dos séculos e foi em torno dele que nasceu a cidade. Outro rochedo, também de origem vulcânica, o Arthur’s Seat, ergue-se verde, imponente e de acesso difícil noutra ponta da cidade. Como se no meio da urbe houvesse uma montanha campestre, para quebrar o excesso de civilização. Depois, os escoceses são muito simpáticos e hospitaleiros, o que faz toda a diferença quando se viaja. Querem saber tudo: de onde somos, quantos dias estaremos por lá, o que achamos da sua terra, se já comemos haggis, um enchido de miudezas cujo cheiro desarma qualquer boa vontade de entrar em novos territórios gastronómicos.

Edimburgo fervilha de lendas à volta do oculto. A malha urbana da Royal Mile, a longa rua que atravessa toda a Old Town, favorece as histórias de casas assombradas. O turismo local promove esta faceta enigmática. No Mary´s Close, um dos muitos becos da Royal Mile, fala-se de um massacre ali ocorrido para suster a peste que assolou a cidade em 1644-45.

Os habitantes chacinados, diz a lenda, fazem aparições em certas noites. Nesta cidade assombrada, aventurei-me num passeio aos Ghosts & Ghouls da velha cidade, que incluem a descida às catacumbas. A visita guiada, a pé, começa num local de antigas execuções e torturas, a Mercat Cross, a que assistiam multidões sedentas de sangue. Mais à frente, começam as histórias de fantasmas, casas assombradas e aparições. Passamos num beco aonde ninguém se aventura depois do anoitecer. Por isso, o lixo acumula-se ali, explica-nos a guia. Quando entramos nas catacumbas situadas nos arcos da South Bridge, só descobertas em 1985, é que a situação fica negra. A visita é desaconselhada a pessoas com problemas cardíacos ou claustrofobia. Após a descida de vários lances de escadas, passamos num túnel e somos enfiados numa sala sombria e húmida. À luz das velas, transitamos para outra mais pequena e mais escura e de repente, ouvem-se vozes e vêem-se sombras. A guia repete histórias passadas nestas oficinas dos mercadores do século XVIII, afirmando que hoje ainda, ali, vagueiam fantasmas. O medo sente-se no ar e todos desejamos sair dali o mais depressa possível. Será por isso que os escoceses são considerados um povo desconfiado?

Depois dos Ghosts é hora de ir a um restaurante, pois em Edimburgo, fecham cedo. Aqui recuperei forças.

Apesar de todo este ambiente fantástico, são raros os vestígios da ilustre residente J. K. Rowling numa cidade que venera os escritores da terra como Walter Scott, com um enorme monumento na Prince´s Street e Robert Louis Stevenson. A escritora de Harry Potter vive numa mansão em Aberfeldy, no campo verdejante do Perthshire. Foi no café Nicolson que, sentando-se numa mesa de canto, escreveu as aventuras que a tornaram uma das mulheres mais ricas e famosas do planeta.

Bem perto deste café, fica The Meadows, um lindo parque, uma das zonas de lazer predilectas dos habitantes da cidade que desfrutam a vida ao ar livre e em família, seja a pé ou de bicicleta. Seguindo pela Royal Mile, esta rua cinzenta, em Agosto ganha cor. Entre as lojas de kilts, tartan e lãs escocesas, passando pelas doçarias artesanais de fudge, há muito comércio, pubs, cafés, restaurantes, museus e músicos a tocarem gaita-de-foles. No fim desta rua, encontra-se o Palace of Holyroodhouse, residência oficial da rainha e onde viveu Mary, rainha da Escócia, entre 1561 e 1567.

Os jovens encontram-se no Grassmarket, uma praça recheada de restaurantes, pubs e pizzarias, cujo único senão é o fecho precoce das esplanadas. Nas noites de fim-de-semana, as festas de despedidas de solteira são levadas a rigor. Neste percurso encontra-se o Scotch Whisky Heritage Centre. O uísque é a bebida escocesa por excelência. Existem 87 destilarias em toda a Escócia. Esta bebida está impregnada na vida dos escoceses, fazendo por isso parte natural da sua cultura.

Na Escócia falam-se três línguas: o inglês da Escócia, o Scots (que por vezes não é considerado como um idioma separado) e o gaélico escocês. A cidade de Edimburgo recebe, no Verão, aquele que é considerado o mais importante festival de teatro do Reino Unido.

As vielas e os becos misteriosos, histórias de fantasmas e de casas assombradas, são o cenário inspirador para as aventuras de Harry Potter.



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