quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Bonjour, Côte d'Ivoire !!

Bom dia Costa do Marfim !!

-Non, encore cinq minutes s’il vous plaît! (não, mais cinco minutos por favor!), imploro eu à minha “mãe adoptiva”, mas não serve de nada. Afasto a mosquiteira e convenço-me que é só mais um dia longo e trabalhoso, e apresso-me a acompanhar os meus “familiares” pela floresta afora.


Hoje vou conhecer as vastas plantações de cacau de Marahoué! Já não era sem tempo, tenho saudades daquele cheirinho a chocolate. Hmm...

Faz três semanas que estou aqui e desde então a minha vida não tem sido nenhum mar de rosas. A verdade é que tenho 17 anos e antes que complete 18 anos, os meus pais enviaram-me para a Costa do Marfim, mais precisamente Marahoué, durante 3 meses. Não é para me castigarem eu sei mas sim para evoluir as minhas capacidades de independência, responsabilidade e dar o verdadeiro valor á vida. Pois, talvez mereça isto! Os meus pais tomam-me por uma menina mimada e superficial, que não dá valor áquilo que é realmente importante.


Não acreditam como foi difícil a partida, estava habituada a ter tudo e agora, apenas sobrevivo com o necessário. Não admira que a esperança de vida seja apenas de 48 anos… Não sei se sobrevirei mais uma semana, preciso urgentemente de uma manicure com todos os extras incluídos!

Uff! Hoje estão 40 graus célsius e não é um dos dias mais quentes do ano. Costa do Marfim tem um clima tropical, com vastas florestas que escondem milhares de espécies interessantes, um país que sempre estive desejosa de conhecer, mas numa viagem bem curta, numas férias descansadas com direito a todo o conforto de um hotel. Tal que não acontece.

Bom, chegamos ao local e o odor a cacau faz-me crescer água na boca. Mas não pensem que vou fazer uma visita guiada à plantação de cacau, vou pegar na enxada e estragar as minhas belas unhas e mãos calosas para iniciar um novo ano de cultivo, pois o cacau é uma das especiarias mais exportadas deste país.

(…)

Recomeçamos um novo dia com um pequeno-almoço bem reforçado. Em folhas de bananeira distribuem uma espécie de farinha estranha com algumas bizarras bolachas a acompanharem. O sabor não é o melhor, mas eles comem com uma folia como se aquele prato fosse o último. A sua alegria é evidente, pois só o facto de terem alimento na mesa e de estarem rodeados pela família, deixa-lhes um sorriso estampado no rosto! Ou será que se estão a rir da minha cara?! Bem, no fundo, esta visão entristece-me. Relembro as fartas refeições que menosprezava, dando valor apenas àquilo que era fútil, desprezando o verdadeiro sentido de uma refeição familiar.
-Allez Mónica! Depeche-toi! (vamos Mónica! Despacha-te!) – já é tarde, vamos perder a boleia. Hoje vamos à cidade procurar alimentos ricos em proteínas como a carne, pois no meio da floresta nós somos as presas e não os predadores.

Durante a viagem observo as diferentes paisagens e os estranhos animais que espreitam desde a escuridão da floresta, penso na minha pirâmide dos valores que realizei na aula de filosofia. Lembro que o meu valor primordial era a “vida social”, pois o que é que eu seria sem os amigos?! Quem iria aturar as minhas birras?! Quem seria desta vez o meu amigo do mês?! Quem convidaria para a minha festa de aniversário?!

Por fim acabo por perceber que nada disto faz sentido, coloco questões que se sobrepõem a estas e a verdadeira realidade acaba por vir á tona. A minha família faz-me falta, é sem dúvida ela com quem posso conta. A verdade é que não me imagino sem o meu pai ou a minha mãe, ambos me fazem uma tremenda falta. Posso contar todos os segredos aos meus amigos, mas aqueles que estarão lá para me apoiar e me oferecer o seu ombro amigo, serão a minha família. Esse sim é o verdadeiro sentido da amizade, mas quero ir mais além, quero fazer parte na vida familiar, quero partilhar os meus segredos, os meus momentos de alegria e as minhas tristezas mais profundas com aqueles que me apoiam verdadeiramente, a minha família.

Aqui recomeço um novo eu, aproveitarei esta experiência ao máximo e testemunharei o verdadeiro sentido de uma refeição familiar daqui em diante.

Je vous aime! Merci pour tout maman et papa!

Sem comentários:

Enviar um comentário