domingo, 2 de maio de 2010

Nietzsche e o Estado

“O Estado é o mais frio de todos os monstros frios; mente friamente e eis a mentira que escorrega da sua boca: ‘Eu, O Estado, sou o Povo’.”


Nietzsche

Após a leitura e análise desta citação de Nietzsche, penso que a ideia deste filósofo se baseia, fundamentalmente, na falsidade de que o Estado somos todos nós.

Na minha opinião, para Nietzsche, pelo contrário, o Estado é uma criação burocrática assente numa rede de instituições hierarquizadas, (por exemplo Presidente da República, Ministros, Secretários de Estado, Directores Regionais, etc.) que se alimenta, como um monstro, do contributo de todos os cidadãos (tal como os impostos e o trabalho) para a sua própria sobrevivência.

No entanto, esta ideia é tanto mais verdadeira quanto mais totalitário é o Estado. Isto é, em regimes onde não existe margem para a liberdade e iniciativa individuais, como nos regimes ditatoriais, o Estado torna-se asfixiante.

Esta afirmação será menos apropriada quando o Estado resume a sua acção a domínios de soberania (defesa, segurança, justiça) deixando todas as outras actividades à iniciativa privada, tal como acontece, por exemplo, nos E.U.A.

Eu penso que existe aqui um dilema fundamental entre um Estado forte que limita a liberdade individual e um Estado mais pequeno que responsabiliza os cidadãos, permitindo a existência de maiores desigualdades sociais e económicas.

Em Portugal, discute-se de momento muito esta situação, nomeadamente, o peso do Estado na nossa sociedade. Algumas correntes políticas pensam que o peso do Estado na sociedade é muito elevado, enquanto que outras entendem que este devia marcar uma presença mais forte.



Mas o que será que Nietzsche pensa realmente do Estado?

ASSIM FALOU ZARATUSTRA

DO NOVO ÍDOLO

“Estado, chamo eu, o lugar onde todos, bons ou malvados, são bebedores de veneno; Estado, o lugar onde todos, bons ou malvados, se perdem a si mesmos; Estado, o lugar onde o lento suicídio de todos chama-se – “vida”!

Olhai esses supérfluos! Roubam para si as obras dos inventores e os tesouros dos sábios; “culturas” chamam a seus furtos – e tudo se torna, neles, em doença e adversidade!

Olhai esses supérfluos! Estão sempre enfermos, vomitam fel e lhe chamam “jornal”. Devoram-se uns aos outros e não podem, sequer digerir-se.

Olhai esses supérfluos! Adquirem riquezas e, com elas, tornam-se mais pobres. Querem o poder e, para começar, a alavanca do poder, muito dinheiro – esses indigentes!

Olhai como sobem trepando, esses ágeis macacos! Sobem trepando uns por cima dos outros e atirando-se mutuamente, assim no lodo e no abismo.

Ao trono, querem todos, subir: é essa a sua loucura. Como se no trono estivesse sentada a felicidade! Muitas vezes, é o lodo que está no trono e, muitas vezes, também o trono no lodo.

Dementes, são todos eles, para mim, e macacos sobre excitados. Mau cheiro exala o seu ídolo, o monstro frio; mau cheiro exalam todos eles, esses servidores de ídolos!

Porventura, meus irmãos, quereis sufocar nas exalações de seus focinhos e de suas cobiças? Quebrai, de preferência, os vidros das janelas e pulai para o ar livre!

Fugi do mau cheiro! Fugi da idolatria dos supérfluos!

Fugi do mau cheiro! Fugi da fumaça desses sacrifícios humanos!

Também agora, ainda a terra está livre para as grandes almas. Vazios estão ainda para a solidão a um ou a dois, muitos sítios, em torno dos quais bafeja o cheiro de mares calmos.

Ainda está livre, para as grandes almas, uma vida livre. Na verdade, quem pouco possui, tanto menos pode tornar-se possuído. Louvado seja a pequena pobreza!

Onde cessa o Estado, somente ali começa o homem que não é supérfluo – ali começa o canto do necessário, essa melodia única e insubstituível.

Onde o Estado cessa – olhai para ali, meus irmãos! Não vedes o arco-íris e as pontes do super-homem?”

Nietzsche

Como podemos ver, a minha análise da citação de Nietzsche vai ao encontro do que ele pensava realmente do Estado. :P

                  Mariana Almeida

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